Marcelo Rodrigues de Moraes -(Professor de Língua Portuguesa / Literatura e Coordenador de Área de Códigos e Linguagens dos Colégios Vicentinos)
Texto dedicado a todos os estudantes do Brasil e do mundo.
Que estamos vivendo uma pandemia de consequências desastrosas para a humanidade, isso não é novidade para ninguém. Cotidianamente, os meios de comunicação recheiam sua programação com uma notícia que deixou de ser singular há muito tempo: a contaminação pelo novo coronavírus ainda é uma questão tangível e preocupante que gera, entre muitas coisas, uma realidade paralela na qual todos os dias são praticamente idênticos. É como se estivéssemos presos, revivendo diariamente as mesmas coisas num looping sem fim, como o “tempo perdido” da canção de Renato Russo. Em meio a tantas mortes, tentamos nos proteger de inúmeras formas desse mal invisível e letal.
Nesse contexto alarmante, é impossível não pensar em todas as pessoas que são afetadas direta ou indiretamente pela situação pandêmica. Como professor, não posso ficar indiferente às perdas cognitivas, pedagógicas, sociais e comportamentais a que os alunos estão sujeitos, pois o isolamento fez com que as escolas perdessem uma de suas funções principais: a socialização. E quando se trata de jovens, no início e fim da adolescência, penso que a circunstância se agrava, pois estão perdendo uma das melhores fases da vida acadêmica e pessoal.
Há alguns dias, durante uma aula on-line, uma aluna comentou que estava cansada daquela situação. Os demais colegas, cada um na sua janelinha, concordaram de forma unânime. Era possível ver em cada rosto não apenas um certo enfado, mas também uma urgência de que estivessem todos juntos, presencialmente na sala de aula, vivendo tudo aquilo que um estudante do ensino médio merece viver com a sua turma. O contato diário com colegas e professores, o pertencimento ao espaço individual e coletivo, as aulas, as brincadeiras, o lanche no intervalo, os laços de amizade que se fortalecem e as memórias que se criam e permanecem para a vida toda… parece que ficaram num passado distante.
Definitivamente, não está sendo fácil ser jovem na pandemia. Os adolescentes estão há mais de um ano sem praticamente ver amigos, ir a festas, namorar. Pais, médicos, diretores e professores se preocupam porque sabem que a escola não é apenas um espaço de aprendizagem acadêmica para os alunos – que, na maioria das vezes, até se dão bem com as aulas remotas. O espaço escolar, com todas as suas especificidades, é fundamental para a criação de valores, de noções de sociedade, regras, politização, independência e habilidade de lidar com conflitos que, com certeza, não acontecem dentro de um quarto. Além disso, a falta de todas essas vivências inerentes à juventude tem causado diversos problemas, como crises de ansiedade e depressão.
Apesar do cenário desanimador, os jovens têm inúmeros motivos para continuar lutando e exercendo o seu papel crítico. Sem eles, mesmo que distantes e conectados por meio da internet, o meu trabalho não faria sentido algum e eu não teria aprendido, nesse processo, a valorizar certos aspectos da atividade docente e humana. Talvez os alunos não saibam, mas eles ensinaram muitas coisas a seus professores também – da motivação diária para criar aulas atrativas até os recursos tecnológicos que facilitaram as aulas remotas.
Para a juventude em tempos de pandemia, eu encerro essa reflexão agradecendo a oportunidade de aprender, junto com vocês, a ter resiliência para enfrentar as dificuldades e motivação para nos unirmos, mesmo que à distância, em prol de uma causa tão nobre, que é a educação. E resgato aqui a mesma música citada no início deste texto, pois “todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo. Temos todo o tempo do mundo”.
“Então me abraça forte e diz mais uma vez que já estamos distantes dessa pandemia. Sempre em frente, pois não temos tempo a perder. ”